O Ataque da Ucrânia na Rússia: Entenda

Na última semana, o cenário geopolítico global foi abalado pela notícia de que a Ucrânia realizou um ataque dentro do território russo, especificamente na região de Kursk. De acordo com diferentes relatos, as forças ucranianas controlam atualmente uma área de cerca de 35 km², com a profundidade da incursão variando entre 12 e 35 km dentro da Rússia. Esta movimentação estratégica, que marcou a primeira incursão militar estrangeira em território russo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, levantou uma série de questões críticas sobre os objetivos e a lógica por trás da ação ucraniana.

À primeira vista, a decisão da Ucrânia de desviar recursos e esforços para um ataque no território russo pode parecer uma manobra arriscada e até mesmo irracional, especialmente se considerarmos os princípios tradicionais de guerra simétrica. No entanto, para compreender plenamente essa operação, é necessário abandonar o conceito de guerra simétrica e adotar uma perspectiva de guerra assimétrica, onde táticas e estratégias criativas e inesperadas são utilizadas por forças mais fracas para enfrentar adversários mais poderosos.

A guerra assimétrica é caracterizada por uma disparidade significativa entre os oponentes, não apenas em termos de recursos e poder militar, mas também em termos de táticas. Um exemplo clássico de guerra assimétrica pode ser encontrado na Bíblia, na história de Davi e Golias, onde o pequeno Davi derrotou o gigante Golias utilizando uma estratégia inesperada e engenhosa. Esta narrativa encapsula perfeitamente a abordagem ucraniana no conflito atual, onde a Ucrânia, claramente inferior em termos de poder bélico convencional, busca explorar as vulnerabilidades russas por meio de táticas inovadoras.

Sob essa ótica, a incursão em Kursk não é apenas uma tentativa de desviar as forças russas do leste ucraniano, mas sim uma operação com múltiplos objetivos políticos, psicológicos e militares. Em primeiro lugar, a ação demonstra que a Ucrânia é capaz de levar a guerra para dentro do território russo, desafiando a percepção de invulnerabilidade que Moscou tenta manter. Esta é uma mensagem não apenas para o Kremlin, mas também para a comunidade internacional, incluindo os aliados ocidentais da Ucrânia.

A incursão ucraniana em Kursk tem implicações profundas para a política interna russa. Desde o início da guerra, o governo russo tem procurado controlar a narrativa, apresentando a “operação militar especial” na Ucrânia como uma medida de defesa necessária contra ameaças externas. No entanto, a entrada de tropas ucranianas em território russo desafia essa narrativa e expõe a vulnerabilidade do Kremlin, tanto internamente quanto internacionalmente.

A resposta russa à incursão foi decretar uma operação antiterrorista, conduzida pela Guarda Nacional e pelo FSB, ao invés de uma resposta militar direta. Esta decisão pode ser interpretada como uma tentativa de minimizar a gravidade da situação e evitar um confronto militar que poderia resultar em um desastre para as forças armadas russas, especialmente se considerarmos que as tropas ucranianas envolvidas são altamente treinadas e bem equipadas, em contraste com as forças russas, que em muitos casos são compostas por recrutas sem experiência de combate.

Além disso, a operação ucraniana tem o potencial de aumentar ainda mais o descrédito da administração pública russa. A percepção de que o Kremlin é incapaz de proteger seu próprio território pode minar a confiança da população nas autoridades e no próprio Vladimir Putin, que, até agora, conseguiu manter sua imagem relativamente intacta. No entanto, o crescente descontentamento com a administração pública, exacerbado por eventos como a marcha do Grupo Wagner liderada por Yevgeny Prigozhin, sugere que a legitimidade do governo russo está sob pressão crescente.

Um dos aspectos mais intrigantes dessa incursão é a maneira como ela desafia o tabuleiro de xadrez geopolítico. Durante todo o conflito, o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, tem sido cauteloso em seu apoio à Ucrânia, limitando-se a fornecer apenas o mínimo de armamentos necessários para que Kiev mantenha suas linhas de defesa. Essa cautela é amplamente motivada pelo medo de provocar uma retaliação nuclear por parte da Rússia, um risco que tem sido amplamente explorado pelo Kremlin em suas ameaças veladas.

No entanto, a incursão ucraniana em Kursk sugere que a Ucrânia está disposta a testar os limites dessa cautela. Ao levar a guerra para dentro da Rússia, Kiev parece estar enviando uma mensagem clara: é possível desafiar Putin sem desencadear uma resposta nuclear. A reação russa até agora, que foi limitada à decretação de uma operação antiterrorista e não envolveu uma escalada militar significativa, parece corroborar essa avaliação.

Ainda assim, a incursão levanta a questão de até onde a Ucrânia está disposta a ir em suas provocações. Enquanto Kiev busca demonstrar que pode atacar o território russo sem desencadear uma catástrofe nuclear, o risco de uma escalada permanece. A situação é delicada, e qualquer passo em falso pode ter consequências desastrosas para ambas as partes.

O apoio ocidental à Ucrânia tem sido um fator crucial na resistência ucraniana até agora. No entanto, esse apoio tem sido limitado, com os Estados Unidos e a Europa fornecendo apenas o suficiente para manter o conflito em um impasse. Isso levou a uma guerra de atrito no leste da Ucrânia, onde as forças de ambos os lados têm se engajado em combates de trincheiras que lembram os horrores da Primeira Guerra Mundial.

A estratégia do Ocidente, ao que parece, é evitar uma vitória rápida e decisiva de qualquer das partes, na esperança de que um conflito prolongado desgaste as forças russas e leve a um acordo de paz favorável. No entanto, essa abordagem tem suas limitações. A Rússia, apesar de sofrer pesadas baixas e enfrentar sanções econômicas severas, ainda possui recursos significativos e a capacidade de prolongar a guerra indefinidamente. Por outro lado, a Ucrânia, mesmo com o apoio ocidental, está enfrentando uma situação cada vez mais precária, com suas forças militares sob constante pressão e sua infraestrutura sendo devastada pelos ataques russos.

Nesse contexto, a incursão em Kursk pode ser vista como uma tentativa desesperada de romper o impasse e forçar uma mudança na dinâmica do conflito. Se Kiev conseguir manter uma presença estável dentro do território russo, isso poderia levar o Ocidente a reconsiderar sua estratégia e aumentar o apoio militar à Ucrânia, incluindo o fornecimento de armamentos mais avançados e modernos.

Outro aspecto importante da incursão ucraniana é seu impacto nas infraestruturas energéticas da Rússia. Nos últimos meses, a Ucrânia intensificou seus ataques a refinarias e instalações de energia dentro da Rússia, na tentativa de minar a capacidade do Kremlin de financiar a guerra através das exportações de petróleo e gás. Embora a Ucrânia tenha evitado danificar a instalação de Surja, por onde passa grande parte do gás exportado para a Europa, outros alvos foram atingidos, resultando na proibição temporária da exportação de gasolina pela Rússia.

Esses ataques têm como objetivo não apenas enfraquecer a economia russa, mas também enviar um sinal ao Ocidente de que a Ucrânia está disposta a escalar a guerra econômica contra Moscou. A estratégia é clara: quanto mais debilitada a economia russa, menor será a capacidade do Kremlin de sustentar o esforço de guerra. No entanto, essa abordagem também carrega riscos, especialmente no que diz respeito às relações da Ucrânia com seus aliados europeus. Se os ataques ucranianos resultarem em interrupções significativas no fornecimento de energia para a Europa, isso poderia levar a uma reação adversa de países que dependem do gás russo, colocando Kiev em uma posição diplomática delicada.

A incursão ucraniana em Kursk é um movimento ousado e calculado, com implicações profundas tanto para o conflito em curso quanto para a geopolítica global. Ao desafiar a Rússia em seu próprio território, a Ucrânia não apenas busca desestabilizar o Kremlin, mas também testar os limites do apoio ocidental e da paciência russa.

Embora a operação em Kursk tenha sido bem-sucedida até agora, o futuro permanece incerto. A resposta russa, tanto militar quanto política, ainda está em desenvolvimento, e as próximas semanas serão cruciais para determinar se a Ucrânia conseguirá manter sua posição ou se enfrentará uma retaliação esmagadora.

O que é certo, no entanto, é que essa incursão marcou um novo capítulo na guerra entre Ucrânia e Rússia, um capítulo que poderá ter consequências duradouras para ambos os países e para a ordem mundial como um todo. A estratégia ucraniana de guerra assimétrica mostrou-se eficaz até agora, mas os desafios que se avizinham são enormes, e o desfecho desse conflito está longe de ser definido.

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A Geopolítica das Relações entre a Rússia e o Ocidente: Antigos Fantasmas em uma Nova Era

Meu artigo especial para o DefesaNet.

A Rússia vem se posicionando de forma cada vez mais estridente sobre a suposta expansão da OTAN em áreas que considera de seu vital interesse. Realmente, a maior parte dos países do antigo Pacto de Varsóvia e os Países Bálticos, que foram repúblicas soviéticas, são membros da OTAN atualmente. Fazer parte da aliança militar é um dos objetivos principais da política externa georgiana e a Ucrânia anunciou sua disposição em se tornar membro desde a época da Revolução Laranja.

Até recentemente, a Rússia parecia estar aceitando a expansão da OTAN com relativa calma e paciência, apesar de frequentemente citar uma promessa não documentada que esta não se expandiria para o Leste. Sobre uma possível admissão da Geórgia na OTAN sem a Ossétia do Sul e Abkhazia, o ministro de relações exteriores da Rússia Sergey Lavrov afirmou em uma entrevista para o jornal Kommersant que “nós não vamos começar uma guerra, eu prometo isso. Mas nossas relações com a Aliança do Atlântico Norte e aqueles países que fizerem isso uma prioridade serão seriamente prejudicadas (Voynu my ne nachnem, eto ya vam obeshchayu (We won’t start a war, I promise you that),” https://www.kommersant.ru/doc/4103946.

Com a anexação da Crimeia e a guerra em Dombas e Lukhansk, a Ucrânia vem se apressando em se tornar membro da OTAN. Como não cumpre os requerimentos necessários, essa questão ainda deve demorar muitos anos. Conversas nos bastidores frequentemente citam no mínimo dez anos, mas chegam até 20 ou mesmo 30 anos. Mesmo assim, há um ano vem amalgamando tropas nas fronteiras ucranianas, chegando a aproximadamente 100 mil homens. Com a Ucrânia o buraco é mais embaixo.

Analistas ocidentais, sobretudo dos think tanks de Washington, vêm defendendo a ideia de um iminente ataque russo nos próximos meses. Essa narrativa está construída na premissa simplista de um ataque convencional seguido de anexação territorial. Apesar dessa possibilidade não poder ser descartada, é necessária uma análise dos objetivos estratégicos russos na região juntamente com os mecanismos que podem ser empregados para atingi-los. A Rússia já demonstrou outras vezes uma significativa flexibilidade tanto na questão doutrinária como na ordem de batalha. A aplicação de modelos baseados em fundamentos lógicos estáticos não traz frutos, assim como isolar o caráter lógico das motivações emocionais.

Muita gente acredita que Vladimir Putin quer restabelecer a União Soviética após afirmar durante o discurso anual perante a Assembleia Federal da Federação Russa em 2005 que a “queda da União Soviética foi o maior desastre geopolítico do século. (…) Dezenas de milhões de concidadãos e compatriotas passaram a se encontrar fora do território russo. Mais, a epidemia de desintegração infectou a Rússia.” Longe de uma tragédia, para os países do antigo Pacto de Varsóvia e várias repúblicas da ex-União Soviética, o colapso do chamado socialismo real significou a liberdade. O mesmo não se aplica à Rússia. Para esta, o fim da União Soviética significou o efetivo colapso do Império Russo, o mesmo que sempre esteve em expansão desde Ivan IV Vasilyevich, o terrível. Um império de mais de 500 anos.

Até 2014, a maneira de se reconstruir o império russo também era assimétrica. Ao invés do uso de força, a ideia do Kremlin era emular um modelo próximo ao da União Européia, onde Moscou seria o equivalente à Bruxelas, chamado União Eurasiana. Dessa forma, o império poderia ser reconstruído sem violência, apelando a interesses econômicos. Não funcionou. Em 2000, a Bielorrússia, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão e a Rússia estabeleceram a Comunidade Econômica Eurasiana. O Uzbequistão aderiu em 2006. Em 2003, a Bielorrússia, o Cazaquistão, a Rússia e a Ucrânia assinaram um tratado estabelecendo um espaço econômico único. A ideia não se desenvolveu por conta da Revolução Laranja na Ucrânia. Em 29 de maio de 2014, apenas a Bielorrússia, o Cazaquistão e a Rússia assinaram o acordo estabelecendo a União Econômica Eurasiana.

Para a Rússia é um fracasso geopolítico. Como o acordo foi firmado em março de 2014, portanto após a operação na Criméia, a Ucrânia não o ratificou. Sem ela, a União Econômica Eurasiana perde muito do seu escopo e suas vantagens. Segundo, dos outros países que deveriam ter participado por serem teoricamente aliados naturais da Rússia, apenas a Bielorrúsia e o Cazaquistão assinaram o acordo. Na prática, isso significou a rejeição da Rússia pelos países que compõem o que esta considera ser sua área natural de influência.

A situação se agrava, pois a Rússia não consegue aceitar que essa rejeição é o resultado de três questões fundamentais. Primeiro, há uma suspeita fundamentada desses acordos serem apenas uma maneira de subjugação econômica e política para garantir influência russa. Segundo, o modelo político e de governança russa que privilegia uma pequena casta de escolhidos às custas da população em geral e, nesse sentido, há muita corrupção, incompetência e negligência por parte de oficiais governamentais, sobretudo no nível regional. Assim, não é considerado atrativo para a população desses países em comparação com o modelo ocidental. Terceiro, questões históricas. Os Países Bálticos e outros países do extinto Pacto de Varsóvia como Polônia, Hungria, República Tcheca, entre outros consideram a União Soviética, portanto indiretamente a Rússia, como o agressor e opressor que os tirou forçadamente da civilização ocidental. Nesse sentido, a queda da União Soviética significou sua libertação.

Os dados sobre a riqueza anual disponível para adultos do Credit Suisse mostram bem a diferença resultante da escolha do modelo ocidental. No caso da Rússia, os dados de 2021 mostram que a mediana é de 5.431 dólares por adulto. Ocupando o 910 lugar, está em nível similar ao Equador, Peru, Azerbaijão e Colômbia. A média é de 27.162 dólares, mostrando uma concentração de riqueza significativa. Das ex-repúblicas da União Soviética que não se tornaram membros da União Europeia e/ou da OTAN, a Bielorrússia está em melhor situação no 670 lugar e uma mediana de 12.168 e uma média de 23.279 dólares. É imediatamente seguida pelo Cazaquistão no 680 lugar com uma mediana de 12.209 e uma média de 33.463 dólares. A Ucrânia ocupa o 1170 lugar com uma mediana de 2.529 e uma média de 13.104 dólares.

Em comparação, no 330 lugar, a mediana da Estônia é de 38.901 e a média 77.817 dólares, similar ao nível da Eslováquia, Grécia e Chipre. A Letônia encontra-se no 360 lugar com uma mediana de 33.884 e uma média de 70.545 dólares, enquanto a Lituânia está 380 lugar com uma mediana de 29.679 e uma média de 63.500 dólares. Os dados mostram uma distribuição de riqueza menos concentrada que na Rússia e na maior parte das ex-repúblicas da União Soviética.

Ao invés de fazer uma autocrítica para entender por quê essa rejeição existe, a reação da Rússia é acusar o Ocidente de realizar operações de informação, psicológicas, e de influência para negar seus direitos a essa zona de influência. Uma boa caracterização da visão russa é o artigo do General Major IN Vorobyov e do Coronel VA Kiselyov Estratégias de Destruição e Atrito: Uma Nova Versão (Стратегии сокрушения и измора в новом облике, Военная Мысль, no. 03, 2014). Publicado na revista científica oficial do Ministério da Defesa Russa, Pensamento Militar (Военная Мысль), o “Ocidente utiliza uma arma subversiva ideológica chamada ocidentalização. Ela consiste em impor na Rússia (e em outros países) um sistema social, econômico, ideológico, cultural, e modo de vida similar aos países ocidentais.

Desta forma, qualquer oposição por parte da população contra o regime político e social russo é considerada resultado de interferência ocidental. É inaceitável que a Ucrânia, bem como a Bielorrússia ou qualquer outro país da zona cinza, queira desenvolver um sistema similar ao ocidental. Isso significa o fracasso da Rússia enquanto hegemon. Como não pode oferecer uma alternativa tão atraente como o modelo ocidental, se sente ameaçada.

Esse sentimento é refletido nos documentos de segurança de defesa. A Doutrina Militar da Federação Russa determina que a ameaça principal para a Rússia é o estabelecimento dos instrumentos de revoluções coloridas (ameaças militares incluem atores externos fatores que podem resultar em um conflito envolvendo forças militares. Perigos militares são fatores que podem escalar até uma ameaça militar). O maior perigo externo são os Estados Unidos, a OTAN, e em uma escala menor a União Européia e o Ocidente em geral. O maior perigo interno são as revoluções coloridas como resultado das fragilidades internas da Rússia, incluindo questões étnicas e religiosas (Doutrina Militar da Federação Russa, 2014, http://scrf.gov.ru/security/military/document129/).

Uma visão similar é refletida no Conceito de Segurança da Federação Russa. O artigo 17 diz que “as ações de alguns países têm o objetivo de inspirar processos de desintegração na Comunidade dos Países Independentes com o objetivo de destruir os laços da Rússia com seus aliados tradicionais. Alguns países chamam a Rússia de ameaça e mesmo de inimigo militar.” O artigo 20 continua com uma referência clara às revoluções coloridas, onde “países hostis vêm tentando utilizar os problemas socioeconômicos da Federação Russa para destruir sua coesão interna, inspirar e radicalizar movimentos de protesto, apoiar grupos marginalizados and dividir a sociedade russa (Estratégia de Segurança da Federação Russa 2021, http://www.kremlin.ru/acts/bank/47046). Em outras palavras, a elite política russa se sente ameaçada pelo Ocidente e pela modernidade. É isso que está em jogo na Ucrânia e na Bielorússia neste momento.

Isso também explica por quê os países do antigo pacto de Varsóvia mais os Países Bálticos fazerem parte da OTAN e da União Européia é tão problemático. É por isso que a aproximação da Ucrânia e qualquer outro país da ex-União Soviética com o Ocidente é inaceitável. Por um lado, acaba com a possibilidade da Rússia manter uma esfera de influência no exterior próximo. Por outro, mostra à população russa que um outro modelo político, econômico e social é possível. A situação vem piorando ainda mais com a ajuda estadunidense à Ucrânia e com o posicionamento de tropas e armamentos da OTAN na Polônia e nos Países Bálticos, incluindo sistemas de defesa antiaérea com capacidade de neutralizar os sistemas de mísseis russos.

Finalmente, mas não menos importante, a Rússia não acredita que a OTAN é uma aliança benigna com foco apenas na defesa dos seus membros e que o verdadeiro interesse dos Estados Unidos é promover democracia e direitos humanos. O Kremlin está convencido que a Operação Força Deliberada (Operation Deliberate Force) na Bósnia-Herzegovina é um dos primeiros exemplos da OTAN atacando em lugar de defender seus estados membros. O envolvimento da OTAN no Afeganistão é compreensível e a própria Rússia ofereceu ajuda aos Estados Unidos, mas acredita que a operação no Iraque foi simplesmente um pretexto para empresas estadunidenses lucrarem. Também acredita que a Primavera Árabe foi o resultado de operações secretas estadunidenses e que a intervenção da OTAN em 2011 teve o objetivo de estabelecer um regime favorável à Washington por causa das reservas líbias de petróleo.

Assim, a Rússia está convencida que a OTAN é um instrumento de dominação ocidental, especialmente interesses econômicos estadunidenses. Os Estados Unidos usam a retórica de democracia e direitos humanos como uma desculpa para garantir seus interesses econômicos por força, especialmente se reservas de petróleo estão em questão (Entrevista com o ministro de relações exteriores da Federação Russa Sergey Lavrov para o programa Grande Jogo do Primeiro Canal em 13 de Janeiro de 2022, https://www.youtube.com/watch?v=hHCV-4Cx8eI.).

O Ocidente vem corretamente acusando o governo russo de ser anti-democrático e de violar direitos humanos. A Rússia tem vastas reservas de petróleo e gás natural. Muitos em Moscou estão convencidos que a Rússia é o próximo alvo das supostas operações de influência dos Estados Unidos. O objetivo seria promover uma revolução colorida, mudar o governo atual por um favorável aos interesses de Washington e vender os ativos mais valiosos da Rússia para empresas estadunidenses. Como esta narrativa está muito enraizada, não há nada que a OTAN ou Estados Unidos possam fazer para convencer o Kremlin que esta não reflete a realidade.

As ambições estratégicas da Rússia devem ser compreendidas neste contexto. A narrativa do restabelecimento da União Soviética não faz sentido, pois não há uma base ideológica que a justifique. Certamente a ideologia da elite política russa não é marxista-leninista. Da mesma forma, não há suporte político para uma volta ao czarismo. Finalmente, operações militares de grande escala são custosas. Apesar da Rússia ter custos operacionais mais baixos, levando-se as operações no Iraque e no Afeganistão como referência, pode-se estimar os custos totais (operacional, segurança interna, veteranos, financiamento) anuais em aproximadamente 300 bilhões de dólares ou o equivalente a aproximadamente cinco anos do orçamento de defesa russo.

Os resultados do processo de modernização das forças armadas russas são notáveis. Contudo, a Rússia não dispõe de capacidade econômica e militar para sustentar um cenário convencional de longo prazo com resistência. Apesar disso, é completamente capaz de engajar em operações menores em suas áreas próximas de interesse e tem poderio militar suficiente para atingir a maior parte dos seus objetivos estratégicos. Assim, como o próprio Presidente V. V. Putin declarou em 2006 em seu discurso anual ao Parlamento russo, “nossas ações devem ser baseadas na superioridade intelectual.” Elas devem ser assimétricas e menos onerosas.”

A questão política também deve ser considerada. No mínimo, uma operação de grande escala significa sanções econômicas mais rigorosas e jovens russos voltando para casa em caixões. Mães russas são uma força política que não deve ser ignorada, mas a população russa atual não é a mesma dos anos 1940. Grande parte da popularidade do Presidente VV Putin deve-se à ideia dele ser responsável por terminar o caos dos anos 1990 e aumentar o padrão de vida da população. Uma guerra de larga escala pode colocar em risco a estabilidade do regime.

Neste momento, a Rússia tem aproximadamente 100 mil homens na fronteira com a Ucrânia. Os serviços de inteligência ocidentais, cientistas políticos, jornalistas e outros estão convencidos que a Rússia pode iniciar uma invasão a qualquer momento. Apesar dessa possibilidade existir, as ações russas parecem estar seguindo o conceito de escalar para desescalar. Apesar desse conceito ter sido desenvolvido no escopo de guerra nucleares, seus princípios são aplicáveis em situações não-nucleares. O princípio é simples. Cria-se um impasse para forçar o oponente a negociar uma solução aceitável para, nesse caso, a Rússia. Dependendo do resultado das negociações, ocorre o processo de desescalada ou se vai para o próximo nível. O processo não é linear. Um dos problemas nesse caso é que para os Estados Unidos e a OTAN a escalada militar é um processo linear. Isso pode resultar em uma escalada ainda mais rápida.

Essa escalada deve ser compreendida como resultado de alguns fatores interdependentes. Primeiro, o suporte dos Estados Unidos e, sobretudo, da OTAN à Ucrânia diminui cada vez mais as possibilidades da Rússia influenciar o país. Segundo, a crescente probabilidade da OTAN abrir negociações com a Ucrânia, ainda que esse processo possa demorar décadas para se realizar. Terceiro, as ações militares russas na Ucrânia em 2014 revitalizaram a OTAN, bem como aumentou o receio dos Países Bálticos e da Polônia de uma possível ação híbrida por parte da Rússia. Isso resultou no desdobramento de tropas e equipamentos da OTAN para a região.

Sun Tzu dizia que é necessário se colocar no lugar do outro para entender suas motivações estratégicas. É possível compreender as preocupações da Rússia, mas não é possível concordar com elas. É uma situação paradigmática: a segurança da Rússia depende da insegurança dos países em sua volta. Em dezembro de 2021, a Rússia apresentou um ultimato para remodelar a arquitetura de segurança europeia. É o terceiro desde 2007. O primeiro foi o discurso na Conferência de Segurança de Munique em 2017 e o segundo pode ser considerado a ocupação da Crimeia em 2014. O Ocidente considera esse ultimato inaceitável enquanto a Rússia diz que é um “pacote” não negociável. Não só inclui uma cláusula estabelecendo a impossibilidade de qualquer país da ex-União Soviética se tornar membro da OTAN, mas inclui outra limitando o desdobramento de tropas e equipamentos em países fronteiriços sem a autorização da Rússia. Ou seja, em caso de um ataque russo, a OTAN teria que pedir autorização à Rússia para iniciar uma ação contra ela. A maior parte das cláusulas é inaceitável.

Apesar da retórica deste terceiro ultimato ser um “pacote,” provavelmente é possível negociar pontos separadamente para desescalar a situação atual. Certas questões são mais urgentes que outras. Para a Rússia, o primeiro passo para se desescalar a situação presente é os Estados Unidos prometerem que a Ucrânia jamais irá se tornar membro da OTAN. O segundo é aplicar o mesmo princípio para outros países, incluindo a Geórgia. O terceiro é remover as forças militares da Polônia e dos Países Bálticos. Dessa forma, é impossível se chegar a um acordo que satisfaça ambas as partes.

A Rússia considera o governo Biden, a OTAN e outros aliados fragilizados, fragmentados e incapazes de decidir. Ainda, que o governo Biden está mais preocupado com a China e deseja que a Europa cuide mais da sua própria segurança. Portanto, não está blefando. Acredita que está com a iniciativa, tem apetite ao risco, está preparada para utilizar força militar. Existe uma possibilidade real de em um momento romper relações diplomáticas com o Ocidente por acreditar que não faz sentido continuá-las.

Como o processo de escalada está se tornando um círculo vicioso em ascensão, é necessário encontrar pontos de interesse comum para promover o diálogo, ao mesmo tempo fazendo-se claro que há linhas vermelhas para o Ocidente. Ao mesmo tempo, a Rússia tem que aceitar que a expansão da OTAN para o Leste não foi o resultado de operações de influência dos Estados Unidos. Esses países basicamente imploraram para serem aceitos por temor de uma Rússia revanchista. Assim, a Rússia tem que compreender que vários países a consideram uma ameaça real, não acreditam em garantias de sua parte e não querem ser parte da sua esfera de influência. Ainda, deve levar em consideração que havia discussões sérias sobre a OTAN não ser mais necessária. Em um certo sentido, ao anexar a Criméia e iniciar a guerra no leste da Ucrânia, a Rússia promoveu o renascimento da OTAN.

Ao mesmo tempo, o Ocidente tem que focar em pontos de interesse comum para desescalar a situação. Eles incluem fazer a implementação dos Acordos de Minsk, renegociar os Acordos de Mísseis Anti-Balísticos e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário. Os Estados Unidos se retiraram por acreditar que a Rússia estava burlando os acordos. Ainda, cooperação no combate ao terrorismo, pesquisa nuclear espacial incluindo propulssão de foguetes e utilização re recursos espaciais. Outra área de possível colaboração é a cibernética. Nesse caso, é possível encontrar pontos de interesse comum imediatos no combate ao crime organizado e lavagem de dinheiro.

Como dizem, o tango se dança a dois.

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Guerras Hibridas: Entendendo a Visão Russa

A anexação da Criméia pela Rússia em 2014 e os conflitos no Leste Ucraniano tomaram o mundo ocidental de surpresa. Primeiramente, pelo fato da Rússia ter atacado uma nação considerada irmã e terra do berço da civiliziação russa. Segundo, pelas táticas utilizadas pela Rússia, que incluíram os famosos “homenzinhos verdes,” tropas russas do Distrito Militar Sul com alto treinamento, porém sem insígnias. Por falta de um termo melhor, analistas ocidentais passaram a chamar a. tática russa de “Guerra Híbrida.” A questão é que a noção de hibridade não existia até 2016 na teoria militar russa, e a partir daí passou a ser utilizada para descrever ações por parte dos países ocidentais comumente conhecidas como Revoluções Coloridas. Nesse video o Prof. Berzins explica a origem do termo Guerra Híbrida, sua inadequação para explicar o modo russo de se conduzir guerras, qual é o termo que os russos utilizam para se referirem a si e sua significância no teatro de guerra.

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O COVID-19 e a Uniāo Européia – As 5 Questões Geopolíticas Parte 3

Nesse terceiro video da série sobre os desafios geopolíticos do COVID-19 a discussão é sobre a União Européia. Há um problema de convergência de desenvovimento entre os países do Norte e do Sul da União Européia. O programa de estimulos aprovado recentemente pode aprofundar as divergências e pode aumentar a instabilidade do bloco.

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O Programa Militar Russo de Substituição de Importações

A independência da indústria de defesa russa de componentes estrangeiros vem sendo discutida desde a independência da União Soviética. Muitas conversas, muito dinheiro gasto, mas quase nenhum resultado. Com a anexação da Crimeia, essa questão se tornou ainda mais relevante. Primeiro, por causa das sanções econômicas. Segundo, por causa da interdependência entre os complexos industriais e militares russos e ucranianos.

Um outro problema tem sido o relacionamento entre as Forças Armadas e o Complexo Militar-Industrial russo. Por um lado, os militares costumam reclamar que o setor industrial é incapaz de atender a demanda nos processos de aquisição de equipamentos e que a qualidade é baixa. Por outro lado, o setor industrial reclama que as Forças Armadas não sabem o que querem, incluindo especificações e requisitos técnicos. Em outras palavras, que o planejamento é ruim.

É que a partir de 2008, o lobby industrial militar conseguiu impor suas especificações e normas às Forças Armadas. Em 2012, o então ministro da Defesa Anatoly Serdyukov chegou a chantagear o Complexo Industrial-Militar, dizendo que “se você não nos fornecer o que queremos, compraremos sistemas estrangeiros out of the shelf.” Esse foi um dos fatores mais críticos para Serdyukov ser substituído pelo menos contencioso  Shoigu. Não funcionou como esperado. Os funcionários do Ministério da Defesa continuaram defendendo os interesses do setor industrial. Putin decidiu então reativar a Comissão Militar-industrial (em russo “VPK”). Seu papel tem sido o de uma plataforma de coordenação entre o Ministério da Defesa e a indústria para harmonizar interesses. Desde 2016 também promover a substituição de importações e estimular o desenvolvimento tecnológico. 

Em 2016, foi divulgado que a produção de cerca de 800 sistemas de armas depende de componentes estrangeiros da OTAN e dos países da UE, e o Conselho de Segurança retomou as discussões sobre substituição de importações. Embora essa discussão esteja em pauta há décadas e vastas somas de dinheiro tenham sido gastas, o resultado é pífio. Desta vez, o VPK pediu à indústria doméstica que substituísse 127 itens. Um ano depois, em 2017, eles conseguiram sete. Não há informações mais recentes.

O  volume de sistemas de dupla utilização civil é deveria aumentar em 30% em 2025 e em 50% em 2030. A lógica é seguir o mesmo modelo dos Estados Unidos desde a década de 1950, o do complexo industrial militar e do keynesianismo militar. Há uma boa estória sobre isso. É real. Quando os americanos tiveram que ir ao espaço, enfrentaram um problema. Como escrever com uma caneta-tinteiro sem gravidade? Eles desenvolveram uma caneta para isso, que deu a base técnica para as canetas modernas que usamos hoje. E a União Soviética? Eles usaram um lápis.

E este é o maior problema. A maior parte da tecnologia que a Rússia possui ainda é dos tempos soviéticos. Não há financiamento sério para os programas de pesquisa e desenvolvimento. Os russos também estão convencidos que o melhor é explorar possíveis interações com o setor de petróleo e gás, que carece de complexidade econômica. Embora a idéia pareça boa no nível setorial, o resultado não será desenvolvimento econômico nem a redução da dependência de tecnologias ocidentais. 

Outro problema sério para a indústria militar russa tem sido a guerra com a Ucrânia. Antes da anexação da Crimeia e do conflito no da Ucrânia, cerca de sessenta empresas ucranianas produziam motores de navios, aeronaves e seus componentes para os militares russos. Inclusive os principais componentes de armas nucleares, como o sistema de mísseis R-36M e o míssel RS-20 Voyevoda RS-20, que na OTAN é conhecido como SS-18 SATAN. Ele foi desenvolvido na década de 1980 pelo Dnepropetrovsk Design Bureau “Yuzhny” e produzido no mesmo local pela “Yuzhmash”. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou planos de descartá-lo, mas, ao mesmo tempo, há informações de que sua vida útil será prolongada. A conclusão óbvia é que os russos ainda não têm um substituto para esses sistemas.

A implantação dos mísseis SARMAT está prevista para não antes de 2021. Outro exemplo é o TOPOL-M, que foi desenvolvido na fábrica Arsenal de Kiev. Há rumores de que eles serão retirados de serviço em 2021 para serem substituídos pelos sistemas de mísseis Yars e Yars-M fabricados na Rússia.

Os planos de produção dos novos navios de guerra também tiveram que ser ajustados, porque a Rússia não produz motores de navios modernos. No início do programa de modernização, o Ministério da Defesa usava os motores de turbina a gás produzidos pela empresa  ucraniana Zorya-Mashproekt. Navios foram projetados para usar esses motores incluem o Projeto 11356 “Guardas de Patrulha”, o Projeto 22350 “Fragatas” e o Projeto 21956 “Contratorpedeiros Multifuncionais”. Em setembro de 2019, o governo russo anunciou que a Companhia Unida de Motores, a NPO Saturno (Rybinsk, região de Yaroslavl) e o OJSC Klimov de São Petersburgo substituiriam os motores ucranianos. Não há previsão para o comissionamento dos novos navios.

Alguma substituição de importação vem acontecendo em motores de helicópteros. A Kazan Helicopters e a JSC Kamov, que produzem as séries Mi e KA de helicópteros, tradicionalmente utilizavam motores produzidos pela empresa Zaporizhzhya Motor Sich da Ucrânia. Agora eles estão recebendo o motor Rostech VK-2500, que é mais caro e ainda depende consideravelmente de componentes estrangeiros.

Os veículos aéreos não tripulados estão avançando mais. O sistema Forpost-R estava sendo produzido sob uma licença israelense. As empresas russas conseguiram substituir todos os componentes por equivalentes nacionais. Outro drone, o S-70 “Okhotnik” (reconhecimento e ataque), foi totalmente desenvolvido na Rússia e é supostamente capaz de interagir com o caça Su-57 de 5ª geração.

Finalmente, os satélites GLONASS. Até 2014, a participação de componentes estrangeiros era de 70%, principalmente dos Estados Unidos. Hoje é de aproximadamente 40%. O satélite Glonass-K2, com apenas componentes domésticos, deveria estar pronto em 2021, mas não há informações recentes sobre o programa. Provavelmente será postergado.

A substituição de importações foi muito eficaz na promoção do desenvolvimento econômico da Coréia do Sul. Poderia funcionar na Rússia, mas há uma barreira significativa colocada pela falta de novas tecnologias. Antes, era possível promover o desenvolvimento de forma independente. A tecnologia era livre. Hoje, existem patentes e propriedade intelectual. Um componente pode usar várias tecnologias de diferentes proprietários. Assim, não é possível desenvolver novas tecnologias isoladas do resto do mundo, especialmente quando pesquisa e desenvolvimento são sub financiados, e os últimos desenvolvimentos tecnológicos significativos ocorreram na década de 1980. Uma alternativa é uma parceria com a China, que tem desenvolvido tecnologia que pode concorrer com a ocidental, mas muitas vezes ignorou as regras internacionais de direitos de propriedade intelectual.

A Rússia pode fazer isso? Provavelmente não. O desenvolvimento baseado em recursos naturais não é sustentável, como discutido pelo grande Adam Smith já em 1786. A Noruega é uma exceção, mas sua economia é complexa. Assim, o desenvolvimento da Rússia pode ser caracterizado como “desenvolvimento do subdesenvolvimento.” Em termos tecnológicos, estará sempre em um processo de catch up, a menos que sejam investidas enormes quantias de dinheiro, mas realmente enormes, em Pesquisa e Desenvolvimento e atração de novos cérebros para o país. Mas quem quer morar na Rússia se pode morar nos EUA ou na Europa? Uma tarefa hercúlea, que provavelmente não acontecerá. Como as guerras são cada vez mais dependentes de novas tecnologias, com o tempo, as capacidades operacionais da Rússia ficarão desatualizadas, forçando as Forças Armadas a confiar no arsenal nuclear para dissuasão e ainda mais em métodos assimétricos de combate.

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