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O COVID-19 e a Uniāo Européia – As 5 Questões Geopolíticas Parte 3

Nesse terceiro video da série sobre os desafios geopolíticos do COVID-19 a discussão é sobre a União Européia. Há um problema de convergência de desenvovimento entre os países do Norte e do Sul da União Européia. O programa de estimulos aprovado recentemente pode aprofundar as divergências e pode aumentar a instabilidade do bloco.

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A Pandemia vai Mudar a Geopolítica?

A Foreign Affairs publicou em 09 de Junho um artigo interessante – Is the Pandemic Reshaping Geopolitics? – com os grande nomes da Geopolítica respondendo se a pandemia vai mudar o cenário geopolítico mundial. É interessante ver como as opiniões divergem, mas mais especialistas acreditam que a pandemia não terá um efeito positivo na influência da China à custa dos Estados Unidos. Eu achei a pergunta muito imediatista. A pandemia por si só não muda muita coisa. Minha resposta seria que ainda é cedo para avaliar. Com pandemia ou sem, a China está com grandes ambições, há um grupo grande de países com ressentimentos consideráveis com os Estados Unidos e o resto do Ocidente e a multipolaridade veio para ficar. A grande questão é como a pandemia vai mudar a organização das cadeias produtivas e o que isso significará em termos de desenvolvimento econômico e social para os países que neste momento são relativamente periféricos. Os BRICS por exemplo. Representam 42% da população mundial, 23% do PIB global, e 30 % do território do mundo. No entanto, em outubro de 2019 o Standard & Poor’s Global Ratings declarou que colocar Brasil, Russia, India, China e Africa do Sul no mesmo grupo não faz mais sentido devido a divergências políticas e econômicas. Eu posso estar errado, mas ainda acho que, mesmo com a pandemia, os BRICS têm colaborado em várias frentes e juntos representam um contrapeso à dominância dos Estados Unidos. Ou seja, a questão não é simplesmente econômica, mas geopolítica. Falando em política, uma outra questão impotante é se e em que medida as orientações políticas dos BRICs irá interferir nas suas relações. O governo brasileiro, da India e da Africa do Sul são de direita. O da China de esquerda. O da Rússia é um híbrido, com interesses próprios que vão além da noção de esquerda e direita. Em que medida isso afeta suas relações? E com os Estados Unidos? São questões complexas, cujo desdobramentos ainda são difíceis de prever. Não há respostas simples.

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A China e a Guerra de Propaganda do COVID-19

Há países em desenvolvimento que buscam ajuda em Pequim para desenvolvimento e infraestrutura econômica. Outros, como a Rússia, sempre gostam quando a China critica os EUA, especialmente o modelo democrático. Há outros países que são pequenos e em posições estratégias frágeis no sistema mundial, que não têm coragem suficiente para criticar abertamente as políticas internas e externas chinesas. No entanto, após o COVID-19, um número surpreendente de países médios e mesmo grandes potências no sistema internacional está vem criticando abertamente o governo chinês. O exemplo mais óbvio é o Estados Unidos. Vários países vêem com o apreensão o tom das críticas do governo Trump e preferirem que os Estados Unidos mantenha um tom mais moderado e lidere uma solução global para a epidemia. Contudo, há uma preocupação considerável sobre a dependência das cadeias de valor global em produtos chineses. Nos Estados Unidos já houve vários pedidos de investigações sobre as possibilidades de romper essa dependência.

O Reino Unido aceitou a oferta da empresa chinesa Huawei para participar do desenvolvimento da rede celular 5G. Todavia, nesse momento a um debate no Parlamento britânico e na mídia pedindo para se reexaminar a participação chinesa, devido a questões de confiança. Debates semelhantes estão acontecendo não só na França e na Alemanha, mas na União Europeia como um todo. Apesar das opiniões estarem divididas, a tendência é desfavorável à China.

Na Ásia, O Japão introduziu uma lei para estimular a re-localização de empresas japonesas produzindo na China com um orçamento de 2 bilhões de dólares. A Coréia e Formosa estão estabelecendo iniciativas semelhantes. O governo da Austrália iniciou investigações independentes sobre as causas do COVID-19. A China respondeu com ameaças de um embargo econômico total. O governo australiano apoiado pela mídia ignorou as ameaças chinesas, ganhando apoio considerável da população. Mais tarde, o próprio presidente chinês Xi Jinping reconheceu que uma investigação é necessária, embora não nesse momento.

Mas e os Estados Unidos? Estão ganhando a guerra de propaganda do COVID-19? Na verdade não. O desempenho do país no combate a epidemia vem sendo duramente criticado nos editoriais os grandes veículos de comunicação e as pesquisas de opinião pública apresentam resultados negativos. Em Washington, diplomatas estrangeiros também vem tecendo críticas contundentes aos Estados Unidos, porém apenas em conversa de bastidores. Ontem, 29 de maio, o presidente Donald Trump anunciou a saída dos Estados Unidos Organização Mundial da Saúde. Contudo há questões se ele tem a autoridade necessária para tomar essa decisão. Caso ele resolva seguir com a decisão, o Congresso americano pode processa-lo em uma corte federal. De qualquer maneira, isso afeta negativamente a imagem dos Estados Unidos no sistema internacional e gera instabilidade desnecessária.

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EUA e China: Rumo a uma Guerra Fria?

Em janeiro desse ano a China e os Estados Unidos assinaram um acordo comercial chamado Phase One. O acordo prevê o aumento de compras de produtos americanos e serviços nos próximos dois anos em aproximadamente 200 bilhões de dólares, incluindo USD 32 bilhões em produtos agrícolas, USD 52,4 bilhões no setor de energia e USD 78 bilhões em produtos manufaturados. Ainda que a China não tenha mudado suas práticas comerciais abusivas desde então, até meados de março o presidente Trump continuava a elogiar várias vezes o presidente chinês Xi Jinping  pela sua liderança durante a crise do COVID-19 da China. Inclusive citou o trabalho profissional dos chineses ao mesmo tempo em que expressou o seu ilimitado respeito e amizade com o presidente Xi Jinping.

Apesar de haver esperanças dos dois países estarem entrando numa nova fase, a crise do coronavírus resultou em uma deterioração aguda em suas relações, a maior nas últimas décadas. A pandemia poderia ter resultado em uma oportunidade para o desenvolvimento de uma cooperação mais profunda, incluindo ações conjuntas para deter a epidemia, desenvolver uma vacina ou um remédio, e ainda ações conjuntas para reduzir o impacto da depressão econômica a nível mundial. 

No entanto, os dois países entraram em uma guerra retórica sobre quem é culpado pela pandemia. O governo chinês vem apresentando a narrativa que soldados americanos levaram o vírus para Wuhan por ocasião dos Jogos Militares Mundiais em outubro de 2019. Ao mesmo tempo, o presidente Trump alegou repetidas vezes que os Estados Unidos teriam provas do COVID-19 ter sido desenvolvido em um laboratório chinês na mesma cidade. Até hoje nenhum dos dois governos apresentou evidências substanciando suas narrativas. É consenso entre a comunidade científica que o vírus se desenvolveu na natureza.

Nas últimas semanas, a competição entre os dois países está indo para a arena ideológica. O governo chinês vem utilizando sua máquina de propaganda para se apresentar como um sucesso na administração da pandemia e um líder mundial confiável e responsável, que está suprindo o mundo com produtos médicos de necessidade urgente. A mídia chinesa vem atacando também o modelo de governança Ocidental, especialmente o americano, acentuando o fim da supremacia ocidental dos últimos trinta anos. Veja meu video tratando deste assunto clicando aqui. A China também desenvolveu um video ridicularizando a resposta americana à pandemia (abaixo). Outros fatores que também influenciam negativamente as relações entre os dois países são as tensões no Mar da China Meridional, a questão de Formosa e de Hong Kong, e as práticas comerciais e tecnológicas da China. Essas 

As relações entre os dois países devem piorar como consequência de dois problemas: um estrutural e outro político. O problema estrutural é proveniente de 40 anos de políticas neoliberais, que resultaram na transformação estrutural da economia americana. Nesse período, houve uma realocação de parte do setor manufatureiro dos Estados Unidos e do resto do Ocidente para a China. isso gerou dois problemas. Por um lado havia a crença que o setor de serviços absorveria a mão-de-obra dispensada do setor produtivo, o que não aconteceu. Vários trabalhadores passaram por um processo de precarização do trabalho ou “uberização” em um processo similar ao analisado pelo Paulo Gala nesse texto.

Ao mesmo tempo a China vem passando por um processo intenso de transformação econômica e social, que vem resultando no desenvolvimento de uma economia complexa. Assim, se antes a China tinha uma inserção subordinada nas cadeias produtivas globais, ao desenvolver a complexidade ela passa a concorrer diretamente com empresas americanas e europeias. O maior exemplo nesse momento é a Huawei e a rede celular 5G. Apesar da retórica econômica dizer que competição é sempre bom, os Estados Unidos vêm tentando limitar a concorrência chinesa em setores complexos. Um exemplo são as ações para limitar o acesso a componentes eletrônicos de tecnologia americana, como por exemplo o chip dos telefones celulares Huawei.

O problema político é resultante desses problemas estruturais. Durante a primeira campanha, um dos principais pontos de Trump foi a promessa de trazer de volta as manufaturas que haviam sido realocadas na China. Contudo, o processo de localização industrial segue a lógica econômica e não a lógica política, e esse processo ficou muito aquém do esperado.

O COVID-19 oferece uma oportunidade para alterar a lógica econômica em nome da segurança das cadeias produtivas e dos estoques estratégicos em tempos de emergência. Contudo, mesmo que haja uma transformação nas cadeias produtivas globais, não é possível retornar à estrutura econômica de 40 anos atrás. Para compensar custos mais elevados de mão-de-obra, a geração de empregos em um hipotético boom manufatureiro nos Estados Unidos será baixa devido ao alto nível tecnológico das linhas de produção. Assim, o problema não se resolve.

Assim, os ataques de Trump contra a China servem a três objetivo. Primeiro, para diminuir o apoio a democratas populistas. Segundo, para desviar a atenção da população do fracasso do governo americano no combate à pandemia. Terceiro, para ter um inimigo externo como elemento de campanha política. Pesquisas mostram que 31% dos eleitores americanos consideram a China como inimiga ao mesmo tempo que 23% consideram como nem inimiga nem aliada. O candidato democrata Joe Biden acusou Trump de ser condescendente demais com a China em um recente comercial de campanha (veja abaixo), prometendo ser mais duro. Levando-se em consideração que a China vem adotando uma diplomacia cada vez mais assertiva, é de se esperar que as relações sino-americanas estão longe de se acalmar.

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